segunda-feira, 11 de outubro de 2010

PRÉ-PRODUÇÃO BAHIA ASSIM CABULA

Claudia Pessoa.CABULA ENFIM OU CABULA SEM FIM, ASSIM ...

Claudia Pessoa

Para mim, existe mais ideias do que árvores no bairro do Cabula. Diz-se que Cabula é o nome pelo qual foi chamada, na Bahia, uma religião sincrética que passou a ser conhecida com o fim da escravidão, com caráter secreto e fundo religioso. Isso no final do século XIX. Mas o bairro recebeu este nome porque é originário do Quilombo do Cabula e de um ritmo da Diáspora musical africana no Brasil, toque de percussão religioso de Angola, base rítmica do samba, música de origem sudanesa. Embora as marcas dessa identidade negra possa ser facilmente vista nas esquinas que quebram para outros bairros mais periféricos, a Silveira Martins impressiona pela quantidade de conjuntos habitacionais que não lembram, nem de longe, o local de antigos rituais do candomblé. Eu e Geize passamos horas conversando com o comandante do 19º BC a respeito das ações desse comando na região, bem como do esforço deles na perspectiva de preservação ambiental, visto que é uma das poucas áreas de mata atlântica nativa na capital baiana, além de ter sido o primeiro pólo distribuidor de água potável da cidade. O quartel é imponente por si só e guarda relações inimagináveis com a comunidade. Ali, promovem ecoterapia e possibilitam a visitação de escolas. E a comunidade se apodera do espaço. Seguimos para a Chácara do Cabula e lá retomamos as frutas que outrora fizeram a felicidade de D. Del, funcionária do Centro Comunitário.

No Hospital Roberto Santos eu e Peterson nos perdemos nos corredores apinhados de gente enferma. Aterrorizados por cenas que são reais para todos nós, mas, para professores acostumados com a labuta do conhecimento, da educação, ver e enxergar a finitude do ser humano, causou sofrimento. Preferimos nos perder naqueles corredores imensos, frios e distantes de nossa realidade, mas que nos mantiveram vivos, quando encontramos a história da construção daquela unidade no bairro e a relevância do hospital para a comunidade. Sabíamos que dali também se extraíriam histórias de vida ímpares.

A jornada não terminava. Era preciso seguir. Seguir com a certeza de que falaríamos do Cabula, mas muitos outros pontos precisaríamos deixar de lado, já que o tempo de TV, é pior que o nosso tempo. É um tempo que às vezes nos escorre, nos extingue e nos esmaga. Seguimos. Eu, Gerald e Peterson. Próxima parada: CENA (Centro de Convivênvia nuDia – Hospital Dia – Hospital Juliano Moreira). Lá, fomos recebidos pela Profa. Edinha. Uma mulher especialíssima. Envolvente e Honoris Causa pela Prefeitura do Salvador, por tantos anos dedicados à erradicação dos hospitais psiquiátricos no país. Afinal, precisamos cuidar de nossos loucos? Precisamos cuidar dos outros. Além de nós mesmos. E vimos isso. Esse espaço é humanizado e nos faz deixar de lado as lembranças de campo de concentração que corriqueiramente nos faz lembrar os hospitais psiquiátricos. O Cabula traz em sua essência imagens antagônicas. Une dor e amor como se fossem pílulas para nos auxiliar a seguir vivendo. Em cada parada imagens inesquecíveis de vida e morte, de amor e desprezo, de comunhão e compaixão.

Seu Loro, de 70 anos, reconta a história e as modificações de seu bairro. Continua fazendo as mesmíssimas coisas que fazia em outra época. A paisagem modifica, mas Seu Loro parece desconhecer os fatos. Propositalmente. Estátua perene num cronômetro real. E rimos com ele. Rimos das histórias. E sentimos saudades do que nem vivenciamos. Apenas duas visitas não daria conta de tantas lembranças, tantas experiências. Voltamos. Voltamos, porque também nos apaixonamos. Dessa vez o endereço era o Colégio Polivalente do Cabula. A recepção da diretora Lúcia comprovou o que já sabíamos. Somente a EDUCAÇÃO pode transformar, somente pela EDUCAÇÃO poderemos fazer CULTURA, AÇÃO, TRANSFORMAÇÃO. E seguiremos, esperando ver nas páginas do VIRAMUNDO um CABULA único e jamais visto dessa forma, em qualquer outra tela de TV. Afinal, Bahia é Assim.

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