sábado, 5 de junho de 2010

FALA DE MARILU NO I ENCONTRO PEDAGÓGICO

Vale a pena ver de novo:

Televisão, escola e juventude

O texto apresenta reflexões sobre a preocupação da escola na formação de jovens diante do uso das tecnologias, trazendo a importância dos meios de comunicação-televisão, na vida da sociedade contemporânea, organizada cada vez mais em torno dos consumos simbólicos propostos pela mídia, que figura como um grande instrumento de formação cultural das novas gerações.

Dessa forma, a escola e os professores na produção do seu currículo e na organização da sua prática pedagógica devem levar em consideração, que a educação e a comunicação funcionam como um processo cada vez mais (inter) relacionado e os jovens que freqüentam os bancos escolares, nasceram e estão se desenvolvendo em meio aos avanços tecnológicos e as mudanças socioculturais em torno dos meios de comunicação em massa.

Logo, estes estudantes valorizam os conhecimentos e as informações que adquirem através da televisão, e se organizam em comunidades de consumidores que se formam a partir de programas de tevê e do que propõem a mídia. De acordo com Canclini (2005), quanto mais jovem for a pessoa, mas seu comportamento depende dos circuitos da comunicação em massa e dos sistemas restritos de comunicação.

Canclini (2005) afirma que as novas identidades são construídas e socializadas, a partir da lógica do consumo e principalmente do que propõe a televisão, ressaltando a importância da telenovela na vida das pessoas, pois estas narrativas colocam em jogo o “drama do reconhecimento”, aparecendo uma nova forma de sociabilidade.

O autor defende: “a identidade é a construção que se narra” (Canclini 2005, p.129), e enfatiza que durante muito tempo, os livros escolares, os museus, os rituais e discursos políticos foram os dispositivos com que se formulou a identidade de cada nação, consagrando a sua retórica narrativa. Na primeira metade do século XX, o rádio e o cinema contribuíram para organizar, os “relatos da identidade nacional” numa cultura visual de massa. Com a chegada da televisão esta função se renova, estrutura-se o imaginário da modernização desenvolvimentista e mostra-se um outro modo de estabelecer identidades e construir a diferença.

A partir dessa época as personagens dos filmes de tevê, principalmente das telenovelas, tornam-se ponto de referência para milhões de indivíduos, que podem nunca interagir, mas partilham uma cultura mediada, uma experiência comum de uma memória coletiva. O autor atribui este fato, às mudanças econômicas, tecnológicas e culturais imposta pela globalização, associadas à capacidade de apropriação de bens de consumo e a maneira de usá-lo, dessa forma altera as possibilidades e as novas formas de exercer a cidadania.

Canclini (2005) argumenta a importância da telenovela para a sociedade moderna e questiona: “Por que a novela influencia tanto as pessoas?” Para o autor, nunca nenhum gênero recebeu tanto destaque entre os setores populares como o melodrama. As pessoas se reconhecem em cada personagem: “do filho pelo pai ou pela mãe, da mulher pelo marido, amante ou vizinha”, dos adolescentes rebeldes, consumistas ou apaixonados. O sucesso do melodrama fez aparecer outra forma de sociabilidade, em que as pessoas se identificam com as personagens da trama, muitas vezes por desconhecer seus direitos nos contratos sociais das grandes estruturas sóciopolítica.

Os estudos de Fischer (2002) sobre o dispositivo pedagógico da mídia (televisão), na produção de saberes que são direcionados para “educação” das pessoas, com o objetivo de ensinar-lhes os modos de ser e estar na cultura que estão inseridos.Logo, a importância de discutir a televisão na escola, pelo seu alcance espetacular na divulgação de produtos que são consumidos pelos diferentes grupos de jovens, e que muitas vezes, levam na sua imagem os valores considerados válidos pelos grupos de prestígios.

O considerado o Outro na mídia, muitas vezes é tratado de forma preconceituosa, como nas novelas de grande audiência nacional e nos programas de humor, em que a mulher aparece como objeto, se utilizando apenas da sensualidade para ganhar o reconhecimento dos homens, o homossexual masculino é sempre extravagante e afeminado, o idoso tolo, o gordo sempre aparece em situação de deboche tendo no seu peso, a única forma de visualizar a sua personalidade, seu caráter ou sua beleza.

Dessa forma, reforço a necessidade de constantes debates na escola sobre os conhecimentos que são considerados válidos na tevê, quebrando o preconceito de que a televisão afasta o aluno dos livros. A televisão é um recurso que possibilita a leitura diária e constante dos fatos do cotidiano, é um meio que necessita ser problematizado como um elemento formador das pessoas, por isso deve ser lido criticamente pelos jovens e por todos os telespectadores. Pois os programas televisivos nem sempre são de qualidade, e exibem valores nada edificantes para os estudantes, principalmente com produtos que estimulam o consumo exacerbado e a manutenção do preconceito político, social e cultural sobre determinados grupos desprezados pela mídia.

A verdadeira inclusão escolar, hoje, lugar comum nos discursos acadêmicos e de políticas públicas, só será realmente concedida, a partir da melhoria do ensino público, na redefinição da prática pedagógica que estabeleça um currículo pautado na compreensão dos Estudos Culturais, capaz de compreender a juventude e a sua cultura, os fundamentos da diversidade, da identidade e da diferença, para criar autonomia no sujeito e valorizar as suas múltiplas dimensões. Finalmente, apesar dos anos passados, se atualiza a necessidade de formar pessoas que ampliem seu conceito de leitura, desde a leitura que precede a palavra escrita como nos ensinou Paulo Freire, até leituras críticas dos meios de comunicação.

Referências

CANCLINI, Nestor García. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização, tradução Maurício Santana Dias. 5. ed. Rio de Janeiro : Editora UFRJ, 2005.

FISCHER, Rosa M.B. Uma agenda para debate sobre mídia e educação. In: SCHMIDT, Sarai (org.). A Educação em tempos de Globalização. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

_________. O mito na sala de jantar: discurso-juvenil sobre a televisão. Porto Alegre : Movimento, 1993.

_________.O dispositivo pedagógico da mídia: modos de educar na (e pela) TV. Educação & Pesquisa, São Paulo, v. 28, n. 1, p.151-162, 2002.

HALL, Stuart. Identidades culturais na pós-modernidade. Rio de Janeiro: Editora D&PA, 1997.

SILVA, Tomaz Tadeu (org). A produção social da identidade e da diferença. In: SILVA,
T.T. (org). Identidade e diferença: a perspectivas dos estudos culturais. Rio de Janeiro: Editora, 2000.

_____.O que é, afinal, Estudos Culturais? Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

_____.Documentos de Identidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 
::
Contador de Visitas Para Blogs