terça-feira, 21 de julho de 2009

QUESTÃO DE ORDEM

Carlos Barros.
O que é uma sala de aula?

A questão, com sua aparência simples e até non sense revela um debate preciso (por que necessário) e impreciso (por que inconcluso).

A sala de aula nasce no contexto medieval como uma nova forma de agrupamento para o aprendizado, em contraste aos modelos das Academias Clássicas. No modelo clássico, em que a discussão e a dialética eram proeminentes, os discípulos estavam vinculados aos mestres por laços profundos de pedagogia (a arte/ciência de conduzir). As vidas estavam entrelaçadas pela filia e pela responsabilidade cotidiana do mestre de apontar caminhos para os efebos (normalmente do sexo masculino).

Na sala de aula, os docentes – ligados em maior ou menor grau ao clero – apresentam aos seus alunos (ainda rapazes) conhecimentos sobre o mundo, sobre a vida, sobre tudo, sem estarem imersos no contexto diário e total dos indivíduos a quem ensinam.

Desta sucessão entre Ágora e sala de aula, nasce a Escola Moderna no ocidente. Nela, um laboratório se constroi no sentido de fazer experimentar-se a vida através de saberes considerados necessários para o chamado “bem comum”.
Sem mergulhar na questão de validade da noção acima enunciada, o coletivo que se expressa neste comum espera da escola que ela possa preparar os indivíduos para a existência na “civilização”.
Escolar é civilizar.
Os tempos passam, as meninas podem estar na escola, o ocidente se esprai, o mundo muda e a escola passa a figurar como lócus do questionamento de si mesma.
A cultura prova que sua validade se põe em cheque quando não consegue responder ao civilizar local, à necessidade de experimentar com os indivíduos construções que se coloquem à disposição do agora, do aqui, do logo adiante. A escola e a sala de aula se colocam diante da premência de ampliação; seus limites se mostram restritos diante da lua, da nave, da fome e da miséria humanas.
A escola e a sala de aula são forçadas a sair das paredes e ganham os ares. O avião sobrevoa o espaço das ondas que buscam atingir o que a sala não contém: o voo dos indivíduos, as asas de gente que ganha corpo, mas não realiza o pretenso caráter “civilizador” da escola.

A escola busca na energia/matéria eletro-magnética do rádio e da TV chegar aos corações/mentes e fazer a “civilidade” – no seu mais prático sentido – se efetivar.

A escola na TV não é a TV da escola.

A escola na TV é uma possibilidade de estarmos recuperando a penetração de um instituto que se desinstituiu, se desfez, se relativizou tanto a ponto de perder-se na sua identidade perdida...
A escola na TV é uma possibilidade, uma potencialidade, pensada como portal de saberes.

Quem há de saber?

A escola na TV há de fazer saberes se construírem, como numa ampla sala de aula em que individualidades e sujeitos possam comunicar anseios e apreciar reflexivamente conteúdos em que valores destes próprios sujeitos estejam contidos?

À escola cabe ampliar e à escola cabe preservar.

À escola na TV cabe ampliar, preservar e difundir.

Santa Clara que nos valha.

Sabe mesmo o que são elétrons na tela e sujeitos em ação?

Uma sala de aula!

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